quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O ódio do movimento antivacina contra autistas

Descrição da imagem #PraCegoVer: Uma mão de homem branco faz sinal de "Pare" a uma mão de médico com uma seringa cheia de uma dose de vacina. O homem antivacina diz "Não quero me vacinar. Meu capacitismo contra autistas e minha crença fanática em fake-news não me permitem". Fim da descrição.

Editado em 14/12/2022

Aviso de conteúdo: Este artigo contém menções a capacitismo contra autistas. Continue lendo-o apenas se tiver segurança de que não sofrerá gatilhos traumáticos.

A fraudulenta teoria de que vacinas “causam autismo” em crianças revelou ao mundo o quanto o movimento antivacina odeia os autistas.

O tempo todo falando da nossa condição como se fosse uma doença, e das mais terríveis, ele semeia pânico e prega intolerância para muitas mães e pais desinformados de crianças pequenas. 

Os induz a acreditar que é preferível deixá-las vulneráveis a doenças de verdade, que causam muito sofrimento e podem matar ou deixar sequelas irreversíveis, a vê-las se revelar neurodivergentes.

Diante da reação dos adeptos dessa abominável ideologia à vacinação contra o Covid-19, conheça melhor esse lado capacitista dela. Saiba como ela induz as pessoas a terem ódio e preconceito contra nós autistas e se apavorarem com a possibilidade de terem filhos que sejam como nós.

O artigo fraudulento de Wakefield: o “start” do ódio antiautismo no movimento antivacina

O ódio antiautismo que se vê hoje no movimento antivacina começou com a publicação, em 1998, do artigo do hoje ex-médico Andrew Wakefield. Seu conteúdo “alertava” sobre uma suposta relação entre a vacina tríplice MMR, contra sarampo, caxumba e rubéola, e a manifestação de comportamentos autísticos em crianças que a haviam recebido.

Só que várias pesquisas (leia aqui uma matéria sobre uma delas), nos anos seguintes, refutaram toda e qualquer relação de causa e efeito entre as vacinas e o autismo.

Em 2010, após uma queda considerável no número de crianças vacinadas com a tríplice no Reino Unido, a revista científica na qual o “estudo” de Wakefield havia sido publicado se retratou, por causa da metodologia fraudulenta utilizada e da presença de sérios conflitos de interesses, e o retirou daquela edição de 1998.

E logo em seguida Wakefield teve o seu registro profissional cassado, sendo proibido de exercer a medicina desde então.

A punição aplicada ao ex-médico vigarista foi exemplar, mas não conseguiu parar o estrago que o artigo dele causou. 

Desde então o movimento antivacina, com a conivência das big techs donas das grandes redes sociais, não tem parado de crescer, inventar mais mentiras sobre uma suposta nocividade das vacinas e diminuir o número de pessoas que confiam nelas.

Como a ideologia antivacina irradia seu preconceito contra os autistas

Descrição da imagem #PraCegoVer: Tweet capacitista antigo de Donald Trump, em que ele diz (em inglês) "Criança pequena saudável vai ao médico, é enchida com uma injeção massiva de muitas vacinas, não se sente bem (sic) e muda - AUTISMO. Muitos casos assim!". Fim da descrição.
O capacitismo de Donald Trump: "Criança pequena saudável vai ao médico, é enchida com uma injeção massiva de muitas vacinas, não se sente bem (sic) e muda - AUTISMO. Muitos casos assim!

O ódio antiautismo dos opositores das vacinas continua se apoiando na fraude de Wakefield. 

Isso ficou perceptível, como revela essa matéria de 2019 do Último Segundo/IG, com o documentário Vaxxed, de 2016, em que o ex-médico reafirma suas mentiras de 1998, e em declarações de gente como Donald Trump, em 2014 - quando poucos acreditavam faltar dois anos para ele ser eleito presidente dos Estados Unidos -, e a atriz Jenny McCarthy, que diz que o filho “pegou autismo” após ser vacinado.

É muito evidente o quanto o discurso dessas pessoas é repleto de capacitismo, de uma visão do autismo como uma “terrível doença”, ao invés de uma condição neurodivergente natural que combina deficiência com virtudes e excentricidades de personalidade.

Como o hoje ex-presidente dos EUA disse no fatídico tweet de 2014, o indivíduo autista essencialmente “não se sente bem” tendo o cérebro que tem. Ou seja, é um “doente” crônico.

Sua “doença” é simplesmente ser ele mesmo. É ser alguém que, ao mesmo tempo que tem limitações de processamento sensorial, comunicação e socialização, pode ser uma pessoa muito inteligente, gentil, questionadora das injustiças, sincera, leal etc. justamente por ter um cérebro diferente.

Atribuindo uma natureza tão negativa ao autismo, os antivacinas defendem que ele deixe de existir. Essa erradicação viria tanto por “curas” que na verdade não funcionam e podem causar graves danos à saúde - como defende o livro Whitewash, de Joseph Keon - como pela recusa de cada vez mais pessoas de se vacinar e deixar seus filhos serem imunizados.

Isso é excelente para os seus gurus, que muitas vezes ganham dinheiro graças a esse discurso criminoso. É o caso dos charlatões vendedores de “tratamentos” fraudulentos para condições que não são doenças, como o próprio autismo, e para as reais doenças cujo contágio a falta de vacinação permite.

Ou seja, os que faturam com as vendas de MMS, óleos essenciais pseudomedicinais, livros de dietas sem glúten e sem lactose adotadas por crenças falsas, sessões de coaching pseudoterapêutico etc. Precisam manter seu público cativo, por isso disparam suas desinformações e manipulações todos os dias.

Ou seja, defender que é melhor uma criança sofrer e morrer com uma evitável doença contagiosa do que ser autista é lucrativo para pessoas muito mal intencionadas.

Conclusão

Por mais que os cientistas e as autoridades de saúde refutem suas mentiras, os antivacinas, por terem interesses pessoais escusos nessa ideologia, permanecem propagando-as e convencendo os incautos de que o autismo é uma doença e deve ser combatido ou prevenido.

Esse capacitismo, somado aos crimes contra a saúde pública, deve nos motivar a combater esse movimento assassino com o vigor que for possível.

Já basta de ver essas pessoas nos tratando como doentes e propagando desinformação que mata!

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