terça-feira, 30 de abril de 2019

Introdução ao TDAH: saiba mais sobre essa condição tão incompreendida

Descrição da imagem #pratodosverem: Uma versão do meme "Keep Calm" com um clip-art de cabeça com cérebro (com algumas dobras visíveis) realçado e a frase "Keep Calm and Eu tenho TDAH". Fim da descrição.

Editado em 19/01/2022

Em abril de 2019, aconselhado por um colega de um grupo de autistas do Facebook, eu fiz alguns testes online* para verificar se eu tenho TDAH, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Diante dos resultados de todos eles, cheguei a uma importante conclusão: eu tenho a condição - ou, no mínimo, tenho probabilidades muito elevadas de ser diagnosticado com ela.

Se você ainda não sabe o que é o TDAH, convido você a ler este artigo e aprender mais sobre essa condição tão mal compreendida e que muita gente ainda acha preconceituosamente que é uma doença.

O que é o TDAH?


O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma condição de neurodesenvolvimento caracterizada sobretudo pelas enormes dificuldades na concentração e na manutenção da atenção em muitas situações de âmbito pessoal, social, profissional e educacional. 

Essa dificuldade é acompanhada, em graus que variam de pessoa para pessoa, pela hiperatividade. Esta por sua vez é um estado neuropsicológico marcado por agitação, inquietude e humor instável quase constantes e dificuldade crônica de parar pra descansar propriamente e tirar um tempo - mesmo que umas poucas horas do dia - para si mesmo.

E o mais importante: a pessoa não pode controlar as características dessa condição apenas pela força de vontade.

A pessoa com TDAH - para a qual eu sugiro a denominação de tedaísta -, assim como os autistas, precisa de suporte inclusivo e ajuda profissional especializada. Mas infelizmente esse apoio é raro e difícil de se obter no Brasil.

Afinal, são pouquíssimos os psicólogos, neuropsicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde que entendem plenamente TDAH em adultos - situação ainda pior quando a tedaísta é mulher - e a sua coexistência com o autismo em quem é duplamente neurodivergente.

Além disso, na grande maioria das vezes, esse número tão reduzido de terapeutas cobra caro por consultas particulares e não é conveniado com planos de saúde.

Características do TDAH - e as com quais eu me identifico


A seguinte lista de características do TDAH foi extraída desta matéria do site Minha Vida (as que eu tenho estão marcadas com um asterisco, e as com dois asteriscos são as que eu já tive em algum momento da vida e pararam de se manifestar):

Desatenção
  • Deixar de prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou durante outras atividades*;
  • Ter dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas*;
  • Não escutar quando lhe dirigem a palavra;
  • Não seguir instruções e não terminar deveres de casa, tarefas domésticas ou tarefas no local de trabalho**;
  • Ter dificuldade para organizar tarefas e atividades*;
  • Evitar, não gostar ou relutar em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (tarefas escolares, deveres de casa, preparo de relatórios etc.)*;
  • Perder objetos necessários às tarefas ou atividades;
  • Ser facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos pode incluir pensamentos não relacionados)*;
  • Ser esquecido em relação a atividades cotidianas*.
Hiperatividade
  • Remexer ou batucar mãos e pés ou se contorcer na cadeira*;
  • Levantar da cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado (sala de aula, escritório, etc.)*;
  • Correr ou subir nas coisas, em situações onde isso é inapropriado ou, em adolescentes ou adultos, ter sensações de inquietude*;
  • Ser incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente*;
  • Não conseguir ou se sentir confortável em ficar parado por muito tempo, em restaurantes, reuniões, etc.*;
  • Falar demais;
  • Não conseguir aguardar a vez de falar, respondendo uma pergunta antes que seja terminada ou completando a frase dos outros*;
  • Ter dificuldade de esperar a sua vez**;
  • Interromper ou se intrometer em conversas e atividades, tentar assumir o controle do que os outros estão fazendo ou usar coisas dos outros sem pedir.
Existem três tipos de TDAH:
  1. O predominantemente desatento, quando as características de desatenção são mais fortes do que as de hiperatividade e impulsividade;
  2. O predominantemente hiperativo-impulsivo, quando as características de hiperatividade e impulsividade são mais fortes do que as de desatenção;
  3. O combinado, quando ambos os tipos de características se manifestam com intensidade semelhante.

O capacitismo sofrido por pessoas com TDAH (tedaístas)


Aviso de conteúdo: Esta parte do artigo contém menções a capacitismo contra quem tem TDAH. Continue lendo somente se tiver segurança de que não sofrerá com gatilho de traumas.

Os tedaístas, assim como os autistas, são alvo constante do preconceito, da discriminação e da desinformação em meio a uma sociedade que não aceita - mas sim nega, patologiza e tenta combater - a neurodiversidade.

Essas são algumas das formas como o capacitismo contra quem tem TDAH se manifesta:
  • Os sistemas de saúde do mundo inteiro têm sérios problemas em prover acolhimento e suporte inclusivo para pessoas com TDAH. Como já foi mencionado, faltam profissionais de saúde mental capacitados que conheçam suficientemente a condição e saibam identificá-la e diagnosticá-la em pessoas de todas as idades;
  • Muitos psiquiatras não entendem de TDAH e, por causa disso, negam o diagnóstico aos pacientes necessitados e dão parâmetros inexistentes para tentar justificar essa negação (ex.: "Você não pode ter TDAH, já que tira ótimas notas na universidade");
  • No outro extremo, muitos outros profissionais de saúde mental prescrevem medicamentos de TDAH para qualquer criança que, mesmo sem a condição, tem comportamentos que parecem hiperativos. Isso atrapalha muito a compreensão da sociedade sobre ela e faz com que muitas pessoas tenham uma postura negacionista;
  • Por causa disso, a grande maioria dos adultos tedaístas não consegue diagnóstico formal. Vivem assim uma vida cheia de problemas e dificuldades, sofrendo com a incompreensão e o preconceito das pessoas ao seu redor sem, em casos em que a pessoa não sabe que tem TDAH, sequer saber por quê;
  • Muitas pessoas ainda negam a existência da condição e a necessidade de apoio inclusivo dos tedaístas, apesar de ambas serem confirmadas pela comunidade médica e neurocientífica;
  • Tedaístas costumam ser duramente julgados, tachados de preguiçosos, lerdos, descontrolados, desequilibrados, malcriados, atrapalhados, entre outras depreciações, por parte de professores, colegas, amigos e/ou dos próprios pais ou guardiões. Isso leva, obviamente, a atos de discriminação, maus tratos, exclusão social e bullying contra eles;
  • Hiperativos, os tedaístas costumam ter hipersensibilidade sensorial semelhante à dos autistas. E como a maioria dos ambientes urbanos é repleta de barulho, luzes e/ou cheiros e não é adaptada para pessoas neurodivergentes, lhe trazem um alto risco de sofrer crises de sobrecarga mental e explosões de estresse.
Fica muito evidente assim a necessidade de o movimento da neurodiversidade abranger as pessoas com TDAH com a mesma força que já abrange os autistas.

Conclusão


Cada vez mais pessoas estão adquirindo consciência sobre o que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Também se percebe mais e mais a necessidade de que a condição não seja combatida como se fosse uma patologia, mas sim que seja tratada em suas características negativas, seja reconhecida como deficiência pela lei e receba políticas de inclusão e adaptação.

Concluo ressaltando que, na condição de autista e tedaísta, posso me considerar uma pessoa duplamente neurodivergente - ou triplamente, se for reconfirmado na idade adulta o diagnóstico de superdotação que eu tive na infância.

Assim sendo, acho justo e muito necessário falar, no blog Consciência Autista e em seus perfis das redes sociais, não só do autismo, mas também do TDAH e da dupla neurodivergência composta por ambos. Este artigo é um primeiro passo na diversificação da conscientização que eu faço da neurodiversidade.

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*Os testes online não têm caráter diagnóstico, mas dão pistas muito importantes sobre se a pessoa tem ou não a condição testada. E ao meu ver, quando vários (pelo menos uns quatro) testes do tipo sobre a condição específica posta em avaliação têm resultados convergentes, a probabilidade de eu tê-la - quando o seu conjunto de características não corresponde necessariamente a outras condições - tende a 100%.

Um comentário:

  1. Pois é, Nícolas. Essa falta de suporte, junto com o não reconhecimento do meu autismo (e TDAH) por mim mesmo, me impediu de ter um bom aprendizado nos dois cursos superiores que eu fiz.

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