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Ambientalismo e neurodiversidade, duas causas com muito mais afinidade do que as pessoas acreditam. |
A afinidade entre ambos é tanta que eu posso dizer, com certeza, que defender o meio ambiente é promover o nosso bem-estar como autistas e o respeito inclusivo à nossa categoria. E lutar pela nossa inclusão passa necessariamente por remover barreiras que o movimento ambientalista combate há décadas.
Convido você a conhecer mais essa tão necessária intersecção entre essas duas tão importantes causas. No final das contas, você descobrirá, ou renovará a sua convicção, que, quando autistas ambientalistas como Greta Thunberg combatem a degradação do meio ambiente, eles estão também protegendo toda a categoria autista.
Os pontos de intersecção entre o ambientalismo e a defesa da neurodiversidade
Poluição, necessidade de contato com o verde, clima que pode levar ao limite a nossa sensibilidade sensorial… São diversos os pontos em que a defesa do meio ambiente beneficia diretamente a população neurodiversa.
Combate à poluição
O elo mais evidente entre ambos é a luta contra a poluição. Afinal, uma das coisas que mais nos causam sofrimento, ao lado do capacitismo, são os estímulos sensoriais excessivos oriundos de formas diversas de contaminação do ambiente.
Entre elas, estão:- A poluição sonora, que atormenta a nossa audição com ruídos muito incômodos;
- A atmosférica, cujas fétidas fumaças levam a nossa sensibilidade olfativa ao limite;
- A luminosa, com suas luzes em demasia que, além de tornar o ambiente muito mais feio e ofuscar as estrelas do céu noturno, sobrecarregam a nossa visão;
- A aquática, que, além de contaminar nosso corpo com doenças, também pode nos causar um insuportável incômodo olfativo, por causa do fedor da água poluída ou do poluente, e/ou tátil, por causa da terrível sensação que a água contaminada pode nos causar ao entrar em contato com nossa pele e nossos olhos.
Luta contra a crise climática
Também na linha do sobre-estímulo sensorial, outra intersecção entre a neurodiversidade autista e a defesa do meio ambiente é o esforço para frear a crise climática global.
O que faz a luta contra as mudanças do clima no planeta beneficiar diretamente os autistas é o fato de que calor e frio excessivos podem causar sobrecarga em quem é muito sensível a lugares muito quentes ou muito frios.
Nesse contexto, praticamente todos os lugares do planeta estão ou estarão suscetíveis a extremos de temperatura e, assim, a se tornarem verdadeiros infernos sensoriais para os autistas que moram neles.
Por exemplo, um autista que mora numa região com histórico de estações do ano amenas poderá sofrer muito a partir do momento em que ali começarem a incidir temperaturas atipicamente altas ou baixas demais para os padrões climáticos locais. Terá cada vez menos qualidade de vida e passará mal cada vez mais por causa de sobrecarga sensorial térmica.
Portanto, defender o freio das emissões de gases-estufa implica necessariamente socorrer os autistas mais vulneráveis a sofrer sensorialmente por causa dos excessos de calor e de frio.
Mais verde para o bem-estar dos autistas
O terceiro ponto de convergência é a defesa de cidades mais arborizadas, com mais parques densamente verdes e melhor distribuição de árvores nas ruas, avenidas e praças, e da preservação e reflorestamento de áreas de ecossistema.
Destaque-se aqui a reivindicação de mais parques urbanos e mais unidades de conservação ambiental visitáveis. Esses estão entre os únicos lugares, quando não são os únicos em absoluto, em que nós autistas podemos descansar, ter nossos lazeres pessoais e descansar nossos cérebros, corpos e sentidos protegidos da maior parte dos estressantes estímulos sensoriais das cidades e de nossas próprias casas.
Além disso, mais árvores nas cidades significam que a poluição atmosférica será mais filtrada e amenizada e, portanto, o fedor das fumaças também será menor. Também moderam a temperatura e detêm o excesso de calor nos dias quentes, nos protegendo do risco de sobrecarga sensorial térmica. E em menor escala, contribuem para frear, ou pelo menos abrandar, as mudanças climáticas.
Por isso, defender o verde da Natureza é promover mais paz e tranquilidade para os autistas.
Ecovilas e casas com arquitetura ecológica
Habitações, condomínios e vilas sustentáveis tendem a beneficiar imensamente os moradores autistas, de diversas maneiras, entre as quais:
- A regulação climática e térmica da casa protege o autista de sofrer com os incômodos sensoriais, por exemplo, do calor úmido;
- A proteção dos cômodos dos ruídos e fumaças de fora o poupam do desconforto e da sobrecarga causados por essas poluições;
- A ecovila, por ser construída num lugar com baixa poluição atmosférica, aquática e sonora, é um lugar profundamente acolhedor para moradores autistas. Quando há regras condominiais contra barulhos excessivos, esse benefício é fortalecido;
Conclusão
Meio ambiente sadio significa autistas também saudáveis. E ambientes poluídos e com pouca vegetação implicam neurodiversos doentes e sensorialmente sobrecarregados.É por isso que nossa luta pela aceitação do autismo passa necessariamente por advogar em favor de várias pautas ambientais. Afinal, se queremos paz, inclusão e respeito, nós só os conseguiremos em lugares que respeitam a Natureza, possuem boa arborização, boa oferta de parques e se esforçam para deter o aquecimento global.
Portanto, se você quer um mundo que aceite e inclua a neurodiversidade, você também pode ajudar atuando na causa ambientalista.