segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Por que até hoje ainda reluto um pouco em assumir de corpo e alma o atributo de autista


Eu sou autista e me assumo com orgulho. Mas mesmo assim ainda tenho um pouco de relutância em vestir essa camisa (que não tem a estampa peitoral que eu odeio) de corpo e alma.

Essa hesitação tem a ver com as violências verbais que sofri na década passada, já relatadas aqui no blog. E acredito que muitos outros autistas sentem o mesmo.

Portanto, quero relatar com mais detalhes essa dificuldade, de modo a ajudar você, caso também tenha essa hesitação, a se identificar com esse sofrimento passado e vencê-lo.

O que o meu passado tem a ver com a relutância em me assumir autista 100%


Como já contei em outro artigo, sofri um forte cyberbullying na década passada, entre 2003 e 2008, em função de ser tido como “esquisito” e “retardado” num fórum virtual.

“Autista” era o nome de que mais me chamavam. Como insulto mesmo, como adjetivo depreciativo, não como uma tentativa de me fazer descobrir que eu era/sou neurodiverso.

Por isso, passei anos do começo da minha vida adulta temendo ser chamado de autista. Até que, “fatalmente”, minha namorada me relatou que identificou em mim características importantes da Síndrome de Asperger.

Ou seja, aquele “nome” realmente me caracterizava. Não da forma como os bullies do passado queriam - como um “retardado”, “bizarro” e “idiota” -, mas sim clinicamente falando. Com características que o DSM-5 associa ao autismo.

Mesmo assim, durante vários meses, fiquei reticente em assumir para mim esse “rótulo”. Tanto foi que, no dia em que me assumi aspie para o mundo, em dezembro de 2017 - leia aqui o artigo que foi publicado na época -, foi como “autista leve”, meio que como uma maneira de minimizar meu atributo de autista.

É hora de eu vencer essa relutância - e você também, caso também seja autista


Escrevi este artigo já com a intenção de que ele quebre o que resta dessa resistência de assumir o rótulo de autista. Pois bem, é isso que eu sou - autista, autistaço, com A maiúsculo, ainda que com um autismo diferente, mais “leve”, do de um autista severo.

Penso, aliás, que você, se também for aspie, pode também ter passado por violência do tipo no passado, de ser chamado de “autista” num sentido não clínico, mas sim discriminatório e ofensivo.

Então, se for o caso, trabalhe com seu psicólogo - caso tenha o acompanhamento de um - como você pode assumir, de corpo e alma, o “rótulo” de autista para o mundo e para você mesmo.

Conclusão


Sim, eu sou autista, e tanto é que eu tenho este blog chamado Consciência Autista, que trata da consciência ético-moral de um autista adulto. E farei o possível para me libertar de qualquer ressalva que reste de me autointitular assim.

Espero que este relato também ajude você a se libertar das amarras do passado e assumir sua condição e identidade psicossocial sem mais percalços e poréns.

2 comentários:

  1. É uma grande pena só ter encontrado este blog agora pois identifico-me com muito do que está aqui!
    Também sou autista leve e vegana, e a minha especialidade é focar-me em problemas não necessariamente ligados ao uso dos animais como propriedade (o uso de cera de abelha na fruta que acontece na União Europeia, os impactos desastrosos dos fogos de artifício nos animais e o consumo de produtos de insetos por veganos são apenas alguns exemplos).
    Mas infelizmente, como já deve saber não é fácil ser nem autista nem vegana. Já me perguntaram se eu era normal, sofri de bullying por fotografar e pegar em insetos e nunca tive amizades duradouras.
    Desde que comecei a seguir terapias os meus "sintomas" de autista começaram a não se notar, e vivo muito melhor por isso. Peço desculpa ao resto da comunidade, mas se me assumir como autista irei ter de passar por uma discriminação que já me conduziu a depressão, e não quero voltar a passar por isso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gratidão por ter compartilhado um pouco de sua história de vida aqui, Ariana =)
      Em relação à discriminação contra autistas, ela "escolhe seus alvos" não por terem assumido o "rótulo" de autistas, mas sim em função de seus comportamentos excêntricos, vistos pelos capacitistas como comportamentos "infantis" ou "de retardado".

      Meu caso foi esse mesmo: ser ~xingado~ de "autista" (não pelas características "sintomáticas", mas sim por associarem autismo a "retardo mental") cerca de 10 anos antes de me descobrir verdadeiramente autista.

      Excluir