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"Autismo não é doença. É diferença", já dizia Benê da saudosa Malhação: Viva a Diferença |
E baseados nessa visão, alguns neurocientistas tentam buscar uma forma de “curá-lo”. Afinal, se é uma doença, então pode e precisa ser curado.
É desafiando essa visão que eu deixo claro aqui, inclusive como autista: meu autismo não é uma doença! É uma condição que implica diferenças e necessidades especiais a serem respeitadas, aceitas e atendidas na sociedade.
Por que o autismo ainda é visto como uma “doença”
O autismo é uma condição neurológica que provê um cérebro diferente para o indivíduo, com propriedades - algumas delas positivas, outras negativas - que o distinguem do cérebro não autista.
Porém, esse cérebro diferente, justamente por causa do paradigma moral de se ver o diferente como “inferior” àquilo e àqueles que são considerados “normais” e se considerar pessoas com necessidades especiais “coitadas” e “incapazes”, não encontra uma boa receptividade na nossa sociedade.
Os comportamentos peculiares dos autistas ainda são muito malvistos. E os pontos negativos de ser autista são super-realçados em comparação com os positivos, uma vez que a sociedade está estruturada para não se adaptar a diferenças neurológicas como o autismo.
Nossa sociedade é feita para os neurotípicos. Autistas são tidos como forasteiros, obrigados a se adaptar - o que resulta, na maioria das vezes, em fracasso - ao que os neurotípicos acham que é “normal”.
Nesse contexto, o autismo ainda é visto como uma “doença”, algo que precisa ser “curado”. E os autistas, como pessoas “quebradas” que precisam ser “consertadas” e convertidas em neurotípicas.
Além disso, na tradição ocidental, cérebros sabidamente neurodiversos sempre foram vistos como “anormais” e “doentes”. Só agora é que isso está começando a mudar.
Por que o autismo não deve ser visto como uma doença, mas sim uma condição que implica diferença cerebral
O modelo social da deficiência deixa claro: o que é deficiente na deficiência não é a pessoa, nem sua condição, mas sim a sociedade como um todo, que lhe impõe barreiras e não está adaptada nem preparada para acolhê-la.
Diante disso, é a sociedade que precisa aceitar a diferença e se adaptar à diversidade, e não o sujeito diferente que precisa se forçar a tentar ser “normal” e se encaixar.
Nesse contexto, é preciso reconhecer: ser autista é apenas um jeito diferente de ser. Não implica problemas de saúde - apesar das eventuais condições coexistentes -, não é transmissível, não é algo que tem a natureza de ferir, causar sofrimento, incapacitar e matar.
Tratá-lo como uma doença implica necessariamente dizer que o nosso jeito de ser é uma aberração, um “erro” que precisa ser “consertado” e “curado”. Que nós somos “doentes” por sermos quem somos e termos nossas necessidades particulares e mesmo nossos pontos positivos que nos distinguem dos neurotípicos.
Conclusão
Portanto, o autismo deve ser encarado e tratado como aquilo que realmente é - não uma doença, mas sim uma diferença, como já dizia Benê da saudosa Malhação: Viva a Diferença.
A sociedade precisa se adaptar e nos acolher. Eventualmente precisamos de ajuda para conviver com os neurotípicos. E é para isso que lutamos no nosso dia-a-dia.
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